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ATHIÊ JORGE COURY: UM ITUANO QUE BRILHOU EM SANTOS

MOMENTO DO ESPORTE RECORDA A TRAJETÓRIA DE UM PERSONAGEM DE DESTAQUE NO SANTOS FUTEBOL CLUBE

Por Daniel Nápoli

Nesta quinta-feira (14), o Santos Futebol Clube, completa 110 anos de fundação e para marcar a data, o Momento do Esporte traz a trajetória de um de seus principais nomes: Athiê Jorge Coury.

Nascido na cidade de Itu, em um imóvel situado na Rua Floriano Peixoto, no dia 1 de agosto de 1904, ele cursou o primário e o secundário em sua terra natal, no Colégio São Luís, indo morar posteriormente em Piracicaba, cursando até o segundo ano de agrimensura. Mais tarde, estudou e defendeu esportivamente o Esporte Clube Sírio, atuando como goleiro na equipe de futebol.

Após formar-se em Economia pelo Colégio Mackenzie, em 1927, mudou-se para Santos, tornando-se sócio de uma corretora de café e ao mesmo tempo começou sua trajetória no Santos Futebol Clube, como goleiro.

Pelo Peixe, Athiê atuou em 171 partidas, entre 1927 e 1934, não conquistando títulos oficiais como atleta, porém suas atuações pelo clube, lhe renderam convocações para a Seleção Brasileira de Futebol. O ituano poderia ter disputado a primeira edição da Copa do Mundo, em 1930, não fossem as divergências entre dirigentes paulistas e a então CBD (Confederação Brasileira de Desportos). Com isso, nenhum atleta que atuava no futebol paulista foi convocado.

Se os títulos não vieram como jogador, Athiê tratou de entrar para a história do Santos, como dirigente. Ele presidiu o clube de 1945 a 1971. Com 26 anos de presidência, é até hoje o mais longevo da história do alvinegro praiano.

Além disso, é o presidente com mais títulos conquistados na história do clube: 28 taças oficiais. Comandando o clube na chamada Era Pelé,  sendo campeão Mundial Interclubes (1962 e 1963), campeão da Copa Libertadores (1962 e 1963), campeão brasileiro (1961, 1962, 1963, 1964, 1965 e 1968), campeão da Recopa dos Campeões Intercontinentais (1968),  campeão da Supercopa Sul-Americana dos Campeões Intercontinentais (1968),campeão do Torneio Rio-São Paulo (1959, 1963, 1964 e1966 ), campeão da Taça dos Campeões Estaduais Rio-São Paulo (1956), campeão paulista (1955, 1956, 1958, 1960, 1961, 1962, 1964, 1965, 1967, 1968 e 1969).

Sob sua presidência, o Santos fez 1.687 jogos, obtendo 1.035 vitórias, 291 empates e 361 derrotas, marcando 4.630 gols e sofrendo 2.549 gols.

Athiê ainda foi eleito vereador em Santos, no ano de 1948 e posteriormente tornou-se deputado estadual, pelo Partido Social Progressista, permanecendo no cargo de 1950 a 1982, retirando-se da vida pública. O dirigente faleceu na cidade de Santos, no dia 1 de dezembro de 1992, aos 88 anos, Apesar de uma trajetória longeva e vitoriosa , Athiê é pouco lembrando em Itu, no município em que nasceu.


Torcedor do Santos e amante da história, o artista plástico ituano Luciano Luz [foto ao lado], fala ao Momento do Esporte sobre a importância de Athiê e de sua luta pelo reconhecimento do ilustre conterrâneo.

“Essa importância [do Athiê] passa para todo o mundo, tanto para nossa cidade, quanto para Santos e outros lugares, como a Seleção Brasileira e o futebol mundial, pois sai do Santos o Pelé, pessoa que ele descobre numa passagem por Bauru”, explica Luciano.

“O Pelé treinava em um time chamado Boquita em Bauru e o Athiê Jorge Cury tinha um amigo que chamava Valdemar de Brito, que tomava conta dos meninos lá e segue a história que o Valdemar queria uma transferência para poder trabalhar em São Paulo e o Athiê como já era político, conversa com Jânio Quadros [então prefeito da capital paulista]  para conseguir essa transferência e então o Valdemar promete dar aquele garoto de 13 anos [o Pelé] pelo qual Athiê tinha visto e perguntado sobre a possibilidade de tê-lo e o Valdemar faz esse trato pela transferência”, conta Luz.

“Então ele consegue levar o Pelé e segundo a história ele passa por Itu com Pelé e desce na Vila Belmiro para praticar o esporte lá. E depois consegue todas as honras, com o Santos sendo o maior clube do Século XX das Américas, de acordo com a FIFA. É o único time brasileiro que jogou em todos os continentes. Parou até guerra. Muitos jornalistas falam que o Santos assombrava o mundo”, acrescenta o artista plástico.

Ainda sobre a importância de Athiê, Luciano destaca. “O Pelé joga por 18 anos no Santos, muito tempo e ali tinha uma máquina de jogar que era a base das primeiras seleções. Ele tem uma importância incrível para o futebol  e não só nasce em Itu, mas estuda aqui na cidade, era eleitor aqui de Itu. Ele tem uma importância para o futebol mundial, não fosse o Athiê, o Brasil não teria sido campeão mundial [1958, 1962 e 1970] e nem teria levado o conhecimento do Pelé e do time todo do Santos para fora do país.”


“ Lembrando que o Santos é o primeiro time bicampeão mundial com essa equipe [presidida] pelo Athiê e ele cria, monta, contrata outros jogadores e ele proíbe em uma forma carinhosa, segura o Pelé no Brasil e tinha muita gente de fora como o Milan-ITA e o Real Madrid-ESP, que queriam levar o Pelé e ele segura ele aqui. Isso fez com que alavancasse mais ainda o gosto do povo brasileiro por futebol. A importância dele é inestimável para o futebol mundial. O Pelé se torna o Atleta do Século [XX] e o Athiê descobriu e o manteve no Santos. Ele foi o mais bem sucedido como olheiro”, prossegue.

Na cidade de Santos, o Athiê foi homenageado dando nome a escola, rua e um condomínio. Na Vila Belmiro, há uma estátua em sua homenagem. Na região sul do Brasil, ele batiza um time de futebol, porém em sua terra natal uma única homenagem ocorreu por iniciativa de Luciano.

“Essa falha com a cultura, com a memória do brasileiro é visto em todos os departamentos. Em Itu, o Almeida Júnior não é tão reconhecido e é o patrono das artes plásticas, por exemplo, muitas pessoas importantes não são reconhecidas.”, explica Luz que ao ser questionado sobre o que pode ter levado a falta de reconhecimento, opina. “O Athiê, depois de Itu, vai morar em Piracicaba, depois vai para São Paulo onde se torna comerciante do café e depois se torna goleiro do Santos, deputado, talvez essa andança dele tenha feito o povo ituano esquecer dele.  É importante falar sobre ele para que não se perca a memória.”

Foi então que em 2011, após o Santos conquistar o tricampeonato da Copa Libertadores da América, Luciano se motivou e foi atrás de um reconhecimento para Athiê. O processo levou quatro anos. “Foi uma luta porque eu descobri que não tem nenhum logradouro dele aqui na cidade, nenhuma informação a respeito de homenagens a ele e achei isso uma falha muito grande com o passado, o passado deveria ter feito isso por nós. Eu levantei todos os documentos possíveis, passei na Câmara de Vereadores e depois consegui falar com o prefeito da época [Antonio Tuize] e eu consegui provar tudo isso a respeito do Athiê. Na verdade eu gostaria que tivesse sido feita uma praça, algo maior em relação a ele, principalmente aos arredores do Novelli Júnior, em que tem esporte, futebol. Ele deveria até ter uma estátua”, diz o artista plástico.

“Mas foi feito o que era possível na parte política e foi conquistada uma rua que fica no bairro Jardim Santa Rosa. São as falhas sobre a história, sobre o passado. Fiz uma pesquisa de campo, de laboratório, me informei bastante sobre o assunto, na Biblioteca Municipal, no museu, para provar tudo isso”, orgulha-se Luciano.

“Na história de Itu para mim ele está entre os dez maiores ituanos da história, junto com Simplício, Prudente de Moraes, Almeida Júnior, Álvares Lobo, Padre Bento, entre outros. Pelo feito no esporte e não tem um concorrente a altura do Athiê. E as pessoas não falam sobre isso”, conclui.


Fotos - Arquivo Luciano Luz/Santos Futebol Clube

 

 

 

 

Moura Nápoli

Moura Nápoli

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