AO
MOMENTO do ESPORTE, EX-JOGADORA E EX-TREINADORA RELEMBRA SUA TRAJETÓRIA E FAZ
UMA ANÁLISE DO ATUAL CENÁRIO DA MODALIDADE
Por
Daniel Nápoli
Mais de meio século de vida dedica ao basquete. Assim
podemos começar a falar sobre a trajetória de Maria Helena Cardoso, que tanto
como jogadora, quanto como treinadora, teve uma carreira vitoriosa.
Com muita história para contar, Maria Helena relembra ao
MOMENTO do ESPORTE sua carreira e também comenta sobre o atual trabalho da
Seleção Brasileira Feminina Adulta.
Início
Nascida no dia 13 de março de 1940, na cidade paulista de
Descalvado, Maria Helena vivia com seus pais e nove irmãos (oito mulheres e um
homem) e desde pequena acompanhava suas irmãs nos treinos de basquete, entre
elas a Maria Aparecida Cardoso (Cida), que brilhou pela Seleção Brasileira). Seu
pai, Osvaldo Cardoso (Calá), foi jogador de futebol, enquanto que sua mãe, Ana
Cardoso, jogava basquete na escola.
“Comento que nasci amando o basquete. Minha família sempre
gostou e foi muito envolvida com o esporte. Nasci e cresci nesse meio. Quando
acompanhava minhas irmãs, eu brincava com a bola, arremessava e fazia
exercícios”, recorda.
Porém foi aos 14 anos de idade, que sua carreira começou
de forma efetiva no basquete. Maria Helena (camisa 8) disputou pela equipe de São Carlos, os jogos Abertos de 1954 e 1955,
sendo levada no ano seguinte por sua irmã Cida (campeã sul-americana em 1954),
para jogar no Pinheiros, na cidade de São Paulo.
No mesmo ano, foi convocada pela primeira vez para a
Seleção Brasileira Adulta. “Minha irmã (Cida) que já era uma veterana na
seleção, me ajudou muito, em todos os sentidos. Ela cuidou de mim. A convocação
foi por méritos meus, pelo meu trabalho desenvolvido, mas ela sempre me deu
muito apoio”, conta.
Piracicaba
Dois anos depois, Maria Helena (à esquerda) que atuou em todas as
posições, exceto de armadora, aceitou o desafio de ir para Piracicaba, que
estava montando um time para a disputa dos Jogos Abertos. Ali começou a nascer
uma relação de amizade, de irmandade e sucesso, com Maria Helena Campos, a
Heleninha (à direita).
“Ainda era muito nova e fui morar em Piracicaba junto com
a Heleninha e seus pais. Jogamos juntas durante muitos anos tanto na seleção
quanto em Piracicaba e depois eu como técnica e ela auxiliar. Vivemos para o
basquete, inclusive abrimos mão de nossa vida pessoal para nos dedicarmos ao
esporte e valeu muito a pena”.
Primeira
passagem pela Seleção Brasileira
Vestindo a camisa da Seleção Brasileira Adulta foi uma
das responsáveis por alavancar o esporte no país, influenciando gerações. Desde
sua estreia em 1956, Maria Helena disputou quatro Mundiais (1957, 1964, 1967 e
1971), tendo como melhor resultado em Copas do Mundo, o bronze em sua última
participação. A ex-jogadora foi ainda medalha de ouro dos Jogos Pan-Americanos
de Cali-1971, além de ser prata nos Pan de Chicago-1959 e no de São Paulo-1963.
Maria Helena recorda a passagem. “Fiz 156 jogos pelo
Brasil e conquistamos títulos importantes e era uma época que não tínhamos o
intercâmbio que temos hoje. Para se ter uma ideia, fiz a estreia na seleção em
1956 e só fizemos a primeira viagem para a Europa em 1965. Antes, só jogávamos
na América do Sul mesmo”.
Treinadora
Depois de deixar as quadras como jogadora e formada em
educação física, Maria Helena iniciou sua carreira de treinadora, em
Piracicaba, no ano de 1976. “Nessa época, eu passei a treinar nas categorias de
base e a Heleninha treinava o time principal. Depois é que fizemos a inversão,
por eu gostar mais de trabalhar com a equipe adulta e ela a base.
Com ambas trabalhando lado a lado, Maria Helena assumiu o
time principal da Unimep/Piracicaba em 1984,
tendo Heleninha como auxiliar. “Sempre tivemos como filosofia trabalhar
com a base, não ter no time principal, apenas jogadoras adultas, vindo de
outros clubes, nossa ideia era revelar jogadoras e graças a Deus, deu certo”. Só
para ”ficar em alguns nomes”, Maria Helena e Heleninha foram responsáveis por
formar nomes como Magic Paula, Vânia Teixeira, Branca, Carminha, Nádia, entre
tantas outras.
Pela Unimep/Piracicaba, Maria Helena conquistou dois
Campeonatos Brasileiros (1985 e 1986) e três Campeonatos Paulistas (1984,
1985 e 1986). Ainda em terra piracicabana, pelo BCN, a ex-treinadora faturou
dois nacionais (1988 e 1990-1991).
Comandante
da máquina
Ao sair de Piracicaba, Maria Helena seguiu faturando
títulos, em temporadas mágicas pela Ponte Preta. Em Campinas (cidade em que vive atualmente), ao lado de
Heleninha, a ex-treinadora comandou um esquadrão, formado pela Rainha
Hortência, Magic Paula, Ruth, Roseli, Nádia, Helen, Cíntia, Lígia, Silvia,
Cláudia, Ana Paula, Iena Bounatians, Karina e Paula.
Para se ter uma ideia do período vitorioso, em 71 jogos,
a equipe campineira obteve 66 vitórias, faturando dois Mundiais Interclubes
(1993 e 1994), dois Campeonatos Brasileiros (1994 e 1995) e dois Paulistas
(1992 e 1993).
Relembrando a trajetória em Campinas, Maria Helena fala
como era o cotidiano com a Rainha Hortência e a Magic Paula. “Era muito
tranquilo. Ambas além do talento, trabalhavam muito. Treinavam,se dedicavam
bastante. Quando você se dedica, tem disciplina, a coisa acontece”, comenta.
Novos
desafios
Depois de um período vitorioso em Campinas, Maria Helena
viveu bons momentos também pelo BCN/Osasco, equipe pela qual faturou um Mundial Interclubes (1998) e dois
campeonatos paulistas em 1997 e 1998.
Depois de anos atuando no basquete paulista, a
ex-treinadora aceitou o desafio de trabalhar no Rio de Janeiro, comandando o Vasco
da Gama. “Ali tivemos uma estrutura muito boa e também um trabalho de base e
conquistamos títulos”, recorda.
Pelo Gigante da Colina, Maria Helena venceu o Campeonato
Sul-Americano de Clubes (2002), um Campeonato Brasileiro (2001) e um Campeonato
Carioca (2000).
Saindo do Rio de Janeiro, Maria Helena ao lado de sua
auxiliar Heleninha, rumou à Espanha, em 2003, onde treinou o Mendibil, da
primeira divisão nacional, permanecendo ali até 2005. ”Fui a primeira mulher a
deixar o país para treinar uma equipe estrangeira”, conta a ex-treinadora.
No ano seguinte, Maria Helena (na foto juntamente com Magic Paula) se aposentou como
treinadora, após retornar a Ponte Preta e levá-la ao vice-campeonato paulista.
Era encerrada assim a sua vitoriosa carreira no basquete.
Retorno
à Seleção Brasileira
Voltando no tempo, Maria Helena, tia de Cadum, medalha de
ouro pela Seleção Brasileira Masculina Adulta nos Jogos Pan-Americanos de
Indianápolis-1987, não foi só vitoriosa como treinadora em clubes. Ajudando a formar grandes atletas, a
ex-treinadora chegou ao comando da Seleção Brasileira Feminina Adulta em 1986,
treinando atletas que iniciaram a carreira “em suas mãos” e nas de Heleninha.
“Fui a primeira mulher a comandar uma Seleção Brasileira e a primeira mulher a
comandar uma equipe em Jogos Olímpicos”, comenta com orgulho.
Pelo Brasil, Maria Helena disputou as Olimpíadas de
Barcelona-1992 (a primeira em que a Seleção Feminina disputou), os Mundiais de
1986 e 1990, foi medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de Havana-1991 e
prata no Pan de Indianápolis-1987, além de campeã sul-americana em 1986, 1989 e
1991.
Seleção
Brasileira atual
Com um currículo de respeito, Maria Helena analisa o
atual trabalho realizado na Seleção Brasileira Feminina Adulta comandada pelo
técnico José Neto. “Eu gosto muito do trabalho do Neto. Eu vejo muito de mim
nele, na questão de trabalhar intensamente. Em pouco tempo ele mudou a
filosofia da seleção, deu um padrão de jogo. Mas acredito que tenha que se
investir também na base, para que possa ser suprida a ausência futura da Érika,
por exemplo e de outras jogadoras que vierem a se aposentar”.
Maria Helena, prossegue. “Achei muito interessante esse
trabalho de levar os técnicos dos clubes para que acompanhem os treinos da
seleção, mas acredito que isso não é o suficiente. São necessários cursos e
investimentos na base, para que possamos ter uma sequência de trabalho e obter
bons resultados”.
Ao concluir, Maria Helena deixa uma mensagem para o fã de
basquete, aconselhando: “seja qualquer carreira que você for seguir, trabalhe sempre
com honestidade, lealdade e dedicação, que você alcançará seus objetivos.
Sempre ouvimos que não devemos desistir de nossos sonhos, mas nada cai do céu,
é preciso fazer acontecer. Nada irá acontecer se você apenas sonhar e não agir.
Sonhar é bom, desde que você se mexa. Sempre trabalhei duro, de maneira honesta e leal, sempre fui dedicada ao
basquete e graças a Deus deu tudo certo, valeu a pena”.
Colaborou o jornalista Frederico Batalha.
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Fotos- Bola na Cesta/São Carlos Clube/Acervo Zinsky de
Mattos/Hemeroteca-Unimep/André Boaretto/ José Pedro Martins/Alexandre Giulietti/Gazeta
Press/Divulgação
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