“MACAQUINHO” OU O MODELO ‘TRADICIONAL’? NOMES DA MODALIDADE COMENTAM A RESPEITO
Por
Daniel Nápoli
Ao longo dos anos, os modelos de uniformes de diversas
modalidades passou por mudanças. No basquete feminino não foi diferente.
Recentemente, nas redes sociais, foi levantada, a
seguinte questão: qual uniforme era ou é melhor para as mulheres? O “macaquinho”,
difundido no Brasil nos anos 2000 ou o “tradicional” camiseta e shorts, que era
utilizado até os anos 1990 e posteriormente dos anos 2000 até os dias de hoje?
Para alguns, o modelo “macaquinho” deveria “ficar no
passado”, já que "por valorizar mais as formas femininas, traria à sexualização
ao jogo, o que iria de encontro a toda luta contra o machismo no esporte".
Já para outros, o atual uniforme “não difere do masculino
e além de não ser um uniforme pensado exclusivamente para as mulheres”. Além
disso, atrapalharia a performance das atletas.
Afinal, qual modelo seria o melhor para que as atletas
possam despenhar seu trabalho da melhor maneira possível?
Nada mais justo do que ouvir a opinião de mulheres que já
atuaram com os diferentes tipos de uniformes para saber qual a preferência e o
motivo.
Além de ex-atletas e atuais, o Momento do Esporte ouviu também uma fisioterapeuta que trouxe diversos aspectos que devem ser levados em consideração na escolha de um uniforme.
Campeã mundial em 1994 , medalha de prata nos Jogos
Olímpicos de Atlanta-1996 e bronze em Sydney-2000, Alessandra Santos de
Oliveira, diz não ter preferência, alegando que tanto o ‘macaquinho’ quanto o
uniforme ‘tradicional’, nunca alteraram sua performance.
“Eu joguei na Seleção com diferentes uniformes, entre
1994 e 2010 e foram oito, nove anos de ‘macaquinho’. Vou falar para você que na
performance não mudou nada. Um jogador que está focado em jogar, sendo que o ‘macaquinho’
era uma questão mais estética”, diz Alessandra.
“O outro uniforme tiveram acidentes, sim, mesmo de shorts
uma vez eu queimei a perna ou descosturou, mas vai mais do atleta. Não tive
problema jogando de ‘macaquinho’ ou de shorts e camiseta. Para mim jogo é jogo,
nunca tivesse esse problema, mais a questão estética. Na minha carreira nunca
tive problema com uniforme”, reforça.
Campeã mundial em 1994 e medalha de bronze nos Jogos
Olímpicos de Sydney-2000, a ex-jogadora e atual comentarista Helen Luz comentou
que embora no começo não tenha gostado da ideia, posteriormente passou preferir
o “macaquinho”.
“Com relação ao ‘macaquinho’, a princípio no meu tempo,
em 2000, para a Olimpíada, falaram que iam mudar do uniforme tradicional para o ‘macaquinho’,
a gente achou meio estranho no começo ,pois só tínhamos visto antes com a
Austrália, mas quando fizeram pra gente, confesso que eu particularmente gostei
muito.”
“Ele era muito confortável e é importante ressaltar a
qualidade, na época era a marca Olimpikus, com forro duplo e para mim tinha
muita comodidade, liberdade para jogar, porque jogar com camiseta e shorts
muito grandes, atrapalha em corte ou a defesa pode te agarrar pela camiseta e
no macaquinho isso era muito mais complicado”, destaca Helen.
A ex-atleta acrescenta. “Então se me perguntar se eu
gostei de jogar com o ‘macaquinho’, eu digo que sim, eu gostei bastante.
Inclusive a gente jogou com ele nos clubes no Brasil também, em vários clubes
que eu joguei o pessoal aderiu e esteticamente também ficava bonito. Mostrava
toda a condição atlética acho que isso para a TV era legal, para o pessoal que
estava assistindo.”
Helen aproveita para destacar a importância de um
uniforme planejado. “Inclusive a gente ia para a Seleção e davam uniforme do
masculino pra gente. Nunca fizeram um uniforme específico para o basquete
feminino, principalmente na Seleção, só com o ‘macaquinho’ que foi um uniforme
muito pensado para as atletas e acho que isso também no meu entendimento
respeitou a figura feminina, porque os homens vestem um tipo de modelagem
totalmente diferente das meninas que tem um corpo diferente, a natureza já fala
assim, então você ter a oportunidade de jogar com um uniforme que foi pensado
para você e foi o caso do ‘macaquinho’ foi uma forma de respeito à modalidade e
às mulheres.”
Armadora e presidente da AEC/Tietê Agroindustrial/Bax Catanduva,
Natália Burian, também atuou com diferentes tipos de uniforme e deixa seu
parecer. “Confesso que amava a era dos uniformes apertadinhos, principalmente
do ‘macaquinho’ que eu acho que fica muito mais feminino. Não que os uniformes
atuais percam esse lado, só que eu via muitas atletas reclamando, ainda mais
nos dias de hoje que tem essas calças térmicas que elas gostam de usar que
ajuda no cansaço, gostem de jogar com slim, essas coisas.”
“Acredito que os de hoje as jogadoras se sintam mais confortáveis e gostam mais e também a maioria dos uniformes (atuais) não perderam o lado feminino. Não são aqueles que vão até o joelho igual ao do masculino, os uniformes atuais são o que a maioria gosta, mas eu não acharia ruim não se voltasse o ‘macaquinho’.
Campeã dos Jogos Pan-Americanos de Lima-2019, a pivô da Seleção Brasileira e do Ituano Basquete, Érika de Souza também achava melhor o ‘macaquinho’, que ela também utilizou tanto pelo Brasil, como pelo São Paulo/Guaru. ”Não tinha que ficar arrumando, essa de 'coloca a blusa para dentro, olha o shorts, etc. E era uma motivação a mais para se cuidar, ficar em forma. É muito mais feminino, muito confortável. Eu prefiro (o macaquinho)".
A fisioterapeuta Maria Rosa dos Santos, com grande
experiência no basquete feminino, comenta os fatores que devem ser levados em
conta para um uniforme.
“Quando falamos de vestuário, transitamos por questões
estéticas, culturais, de praticidade e
conforto. Certamente, quem utiliza, utilizou ou utilizará a vestimenta em
questão tem mais propriedade para opinar sobre o assunto.A vivência com
atletas, o fato de ser mulher e praticar esportes, me permite arriscar alguns
palpites, mas nada além disso.”
“Já participei de avaliações de desempenho em atletas q,
durante a corrida, travavam os braços, não permitindo a fluidez do balanço e
dissociação das escapulas, isso interferia diretamente sobre o padrão de
corrida, na qualidade do gesto, gasto energético e velocidade final. Após
buscas detalhadas, descobri que a vergonha (pelo tamanho/crescimento dos seios) até tops em tamanhos inadequados
(pouca sustentação) interferiam em algo tão simples como uma corrida”, destaca
Maria Rosa.
“Na base, trabalho com meninas que estão iniciando a
pratica esportiva, saindo da puberdade e chegando na menarca. E nós, mulheres,
temos que adaptar o uso de absorvente a prática esportiva. Tem a preocupação
que o mesmo apareça, com possíveis vazamentos. Pra ter uma ideia, tem meninas
que abominam cores claras, em especial o branco, por conta desses possíveis ‘acidentes’,
explica a profissional.
A fisioterapeuta acrescenta. “Conto essas curiosidades
pra exemplificar o quanto a escolha de um vestuário adequado para a prática
esportiva passa por questões tão
complexas e peculiares que devem ser levadas em consideração, na minha opinião.
E lógico, a escolha deve ser feita por quem vai usar, pois uma atleta segura,
confortável e respeitada em suas decisões, com certeza terá uma boa performance
e estará concentrada no aspectos do treino e do jogo”, conclui.
Com a colaboração de Buenas Comunicação, Maria Rosa dos Santos e Nathane
Agostini.
Fotos - Divulgação
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